domingo, 28 de fevereiro de 2010

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domingo à noite... é! bom você sabe bem o que quero dizer... tristeza pela semana que se foi, tristeza pela semana que começou... domingo chuvoso, frio, cama desforrada, travesseiro amassado, quarto escuro, rádio ligado, tédio em alta, ânimo embaixo do colchão, sufocado, sem poder respirar... definhando na umidade do ar... sono? sim, tenho sono, mas não quero dormir, para que a segunda venha tão rápido quanto um fechar e abrir de olhos...poderia telefonar para alguém, saber como foi seu dia, se saiu, ou ficou em casa curtindo a preguiça do domingo... mas quem? por que eu telefonar? Num telefone existe duas extremidades, aqui e acolá, os fios percorrem a mesma distância, assim como esse ato poderia partir de mim, poderia partir de outra pessoa, aquela ou qualquer uma outra, desde que tivesse algum interesse em saber se ainda estou vivo, ou se, por algum acaso do destino, tenha morrido, é uma total falta de interesse em mim... minha vida se resume à um livro cujo o autor escreveu sentado numa privada, desculpem-me pela visão gerada em vossas mentes, mas é meio assim que penso... bom, isso é tudo...

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não posso ficar louco, não tenho sanidade; não posso envelhecer, não tenho juventude; não posso ficar pobre, não tenho riqueza; não posso adoecer, não tenho saúde; não posso entristecer, não tenho felicidade; não posso morrer, não tenho vida... minha vida é você... e você não é minha...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

69#

A noite escura revela um mistério que paira no ar... nuvens vez em quando escondem a resplandecente lua. Vejo o ar dançar por entre as árvores do bosque que avisto além da janela do meu quarto. Dentro do quarto velas balançam ao som de uma música, seguem o movimento ritmado, vibram com o timbre de uma voz que sai não sei de onde... A noite quente tem cheiros que excitam meus poros... minha pele soa. Vejo sombras na parede, dançam, se mexem, se entregam, se beijam... Cheiros invadem minhas narinas, canela, pimenta, noz moscada... Um espírito surge diante meus olhos, vejo, mesmo estando com os olhos fechados, me levanto, mesmo com meu corpo entre lençóis e travesseiros... Duas mulheres em trajes antigos dançam para mim... Dois amores antigos, eu também estou com roupas de outra era, meus cabelos claros, se tornaram extremamente escuros, meus olhos negros, verdes agora são... queimam... não ardem, refletem o fogo de cem mil velas, dançarinas e dançarinos, que se fundem transformando-se em um só ser... Tenho dois amores em minhas mãos... na esquerda, virgem branca, austera, cabelos amarelos que pegam fogo... dança casta que me encanta, cheira amêndoa e mel, jasmim, alecrim, toque de seda... Na mão direita, a flor do pecado, pele morena feito canela, cheira a pimenta e rosa vermelha, seus lábios carmesim balbuciam um nome, não o conheço, mas sei que é meu, seu toque me excita, me deixa alto, pairo no ar, flutuo pela noite, tenho medo de acordar... Eu quero as duas para mim, mas não posso... são como fogo e ar... oriente e ocidente, sal e doce, sol e lua, oceano e lago... Tenho que decidir pelo mel ou pela pimenta... pelos lábios de virgem casta, ou pelos os de carmesim... Tenho que escolher, antes que minha alma volte a habitar o meu corpo, antes que a lua desça e o sol desponte no horizonte... antes que as velas se apaguem... antes que as sombras esmaeçam, antes que o vento cesse e a magia mística seja aniquilada pelos séculos...