quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

68#

Cansado de andar meus pés doem, minhas vistas também estão cansadas de tanto olhar em cada esquina, na esperança que alguém cruze uma delas e roube minha paz... Quando eu morrer, por favor, não me enterrem, não joguem sobre mim a pá derradeira, levem meu corpo para um pico qualquer, deixem que as aves comam minha carne, só assim, depois de caminhar por tantas terras, serei transformado em energia, força, vigor e vida, realizarei em morte, o sonho de voar... de olhar para o chão e ver que o caminho não me traz mais sofrimento algum...

domingo, 17 de janeiro de 2010

67#

eu queria compor uma canção para Deus...
para ver se ele se contenta comigo
me chamasse de filho, me erguesse e desse um sentido à minha vida
mas, dentre tantos fracassos da minha existência,
não saber escrever é mais um que humildemente eu aceito...
talvez, Deus... eu não precise de belas palavras, difíceis, desconhecidas...
para que o senhor ouça o meu clamor,
que distingue minha voz dentre tantos lamentos que da Terra sobem ao céu...
Assim como Cohen, ofereço a ti, o meu Aleluia...
Não é tão original, eu confesso...
Uma palavra que desconheço o significado e o sentido...
Mas sei que cada letra que sobe a ti...
Tu ouves e direciona o olhar para o tão pequeno ser,
que sem força, sem ânimo, sem vida e sem esperança
abre a boca e solta um Aleluia
e que clama aos quatro ventos,
às estrelas do firmamento,
aos anjos, serafins e arcanjos...
que leve ao teu conhecimento
o simples e poderoso... Aleluia...

66#

se por um minuto minha alma pudesse sair do corpo e vagar pelo mundo...
eu andaria por entre as árvores e por entre as ruas desertas...
me afastaria de qualquer ser humano
experimentaria a sensação de ser livre...


domingo, 3 de janeiro de 2010

65#

mais uma vez... conheci alguém...
esse alguém é como o mar me chamando para mergulhar fundo,
das rochas pontiagudas que ao céu desponta,
das quais eu encontrei abrigo seguro...
subi alto demais, a cada desilusão eu galgava uma rocha,
hoje, muito distante do oceano,
tenho muito medo,
medo de cair no mar,
medo de não chegar lá,
medo de me espatifar nos rochedos,
não sei o que faço...
se eu ficar muito tempo nessa fortaleza, morrerei aqui,
os abutres pacientes esperarão minha carne apodrecer,
minha sepultura será ao ar livre,
nos penhascos escarpados,
solitário, esturricado pelo sol, ressecado pelo medo de ser feliz...
o que tenho a perder?
serei devorado de qualquer forma!
pelo amor que me espera,
pelos seres do atlântico,
pelas aves do firmamento,
pelo medo que impera...